Sei lá e pans

opiniao

Na minha família, já tem alguns anos adotamos a prática de fazer um amigo-oculto de desapegos, e num misto de casas muito entulhadas, dificuldades financeiras, filhos e sobrinhos para presentear, acabamos trazendo a prática que já tinhamos entre amigos para a família. Com mais regras, claro. Ninguém queria receber uma lata de cerveja vencida (como já ocorreu entre o antigo evento que faziamos com os amigos. Talvez por isso ele não ocorra mais).

Enfim, em um destes natais fui presentado pelo meu irmão com Pequenos incêdios por toda a parte de Celeste Ng. Apesar da recomendação deste irmão que havia colocado o livro para jogo, foi uma leitura que adiei por um tempo, em parte por realmente ter perdido a prática da leitura, em parte por estar usando todo o tempo de leitura que eu dispunha (não é muito quando se tem três filhos, a mais velha recém na pré-aborrêcencia) a ler os livros do querido Pedro Oli.

Depois de o livro ficar me provocando durante esse tempo de estante, resolvi finalmente lê-lo, até porque já estava ficando de olho para coloca-lo para rodar em um natal próximo. Então, com alguma motivação iniciei a leitura junto com o ano novo.

Capa de "Pequenos incêdios por toda a parte" de Celeste Ng

Admito que demorei a engatar. A história, sobre a qual pretendo falar o mínimo para não soltar spoilers é sobre duas mães e suas respectivas famílias morando em um daqueles subúrbios americanos de classe média alta que só o excesso de TV nos fez conhecer. A medida que a história se desenrola ali em meados dos anos 90, com aquelas limitações que tinhamos até então, uma vida antes de smartphones e internet, vamos acompanhando como os dois mundos diferentes dessas mães vão acabar se colidindo.

Sinceramente, achei o inicio a história bem lento, e continuei a leitura pela profunda necessidade de terminar de ler, de tentar deixar aquilo para trás. demorou um pouco mas acabei sendo lentamente fisgado pela história, o que dá um paralelo interessante de que a medida que as famílias iam interagindo e se embolando ia aumentando o meu interesse nessa história.

Acabei de termina-lo e realmente gostei muito. Apesar do inicio lento, o final foi ágil, e deixa algumas coisas no ar para o leitor resolver. Gosto desses finais abertos. A vida no final das contas é assim né? A gente começa a acompanha-la de um determinado ponto e temos ali uma estreita imagem de como as coisas realmente acontecem, pelo menos para a maioria de nós. Os teóricos do conspiracionismo alien-iluminati-reptiliano que fiquem a vontade de discordar.

Não foi um livro perfeito, eu mesmo acho que algumas coisas não me pareceram muito reais, mas foi uma leitura agradável, especialmente da metade para o final, como já citei. Dá um gostinho de “quero mais” de saber mais um pouco o que aconteceu com todos os personagens no final.

Achei interessante que foi uma história especialmente feminina, não exatamente de maternidade em sí, apesar do protagonismo principal das duas mães, mas da multiplicidade de personagens femininas. Sendo homem é sempre bom ter uma visão desse universo que não conhecemos o bastante, não importa o esforço.

Escrevendo essas toscas linhas, me dei conta de que o livro foi uma minissérie em algum streaming. Talvez valha a pena assistir um dia, ou talvez o ideal seja ficar com as imagens mentais que a minha cabeça fez do livro. Em todo caso, é uma leitura recomendada, caso tenha a oportunidade de topar com ela por aí, quem sabe num amigo-oculto de desapego

#leitura #PequenosIncendiosPorTodaAParte #CelesteNg #opiniao #livros

Este sim, teria sido um bom título para a versão brasileira de C.H.U.D, o mais recente filme que assistimos pelo #monsterdon em vez do subtítuto “A Cidade das sombras”. Não é lá o pior subtítulo que já inventamos por aqui. Ah sim, aviso de SPOILERS daqui pra frente. Não muitos, mas alguns.

O filme em questão se refere a C.H.U.D como uma sigla para Cannibalistic humanoid underground dweller. O que não é lá totalmente verdade, como o filme explica mais a frente. Os seres são criados pelo lixo tóxíco e rejeitos nuclear despejados secretamente nos esgotos da cidade.

Daí somos apresentados aos protagonistas do filme. Um é um fotográfo bem cuzão com a namorada modelo, mas que tira fotos dos mendigos da cidade que se escondem em tuneis de metrô (esses, humanos normais), outro é um dos bandidos molhados de “Esqueceram de mim” interpretando um cara que organiza sopão para os mendigos, e o terceiro um capitão de polícia em busca da esposa desaparecida.

De longe, o melhor desses é o ator de esqueceram de mim, que está meio alucinado no papel, mas é o que mais convence. O fotografo cuzão entra na história ajudando a pagar a fiança de uma conhecida mendiga, e o capitão de polícia entra tentando descobrir porque as pessoas estão sumindo naquela região, incluindo sua esposa e porque a polícia não quer que os crimes sejam investigados.

Mendigo, mas invocado Mendigo, mas invocado

Não é lá um grande filme, mas mostra de alguma forma como mendigos são ignorados pelas pessoas, morando em buracos asquerosos que as pessoas esqueceram que existem, e como quem tenta ajuda-los pode ser achacado pelas autoridades (qualquer semelhança com a realidade e puro acaso, certo São Paulo?)

Enfim, esse é o ponto alto da crítica social que o filme tem, daí pra frente é ladeira abaixo! Logo os mutantes começam a puxar tudo o que pode servir de comida para os esgotos. Para mutantes canibais, eles até deixam muitos pedaços sem aproveitar. Talvez sejam muito específicos com o que querem comer, vai saber.

Capitão e o Bandido Molhado refletem sobre o sumiço de mendigos Capitão e o Bandido Molhado refletem sobre o sumiço de mendigos

As fantasias dos mostrengos são até boas. Unhas imensas, olhos que brilham, sangue verde e bocarras que são rasgos cheios de dentes. A trilha sonora e roupas exalam anos 80, datando bem o filme. A trilha sonora inclusive é uma loucura a parte, pirando toda vez que um dos mutantes aparecem. Não dá pra saber o que o músico queria, mas a sensaçã é que ele caiu de uma escada com todo o seu equipamento ligado.

Pronto para ouvir a palavra do CHUD? Pronto para ouvir a palavra do CHUD?

Pontos altos

  • História de origem de um dos bandidos molhados de Esqueceram de mim;
  • Bons monstros e efeitos práticos pra lá de razoáveis pra média do #monsterdon;
  • Uma pontinha de um John Goodman cheirando a leite perto do fim;

Pontos baixos

  • Trilha sonora é uma bagunça;
  • O Fotógrafo, um dos protagonistas fica meio perdido na história e é um baita cuzão com sua parceira;
  • Deixa gancho para uma continuação (que segundo a wikipedia, infelizmente existe)

C.H.U.D na wikipedia Classificação 40 no Rotten Tomatoes

#filme #monsterdon #CHUD #opiniao