Sei lá e pans

vida

Logo antes da pandemia me descobri hipertenso. Sentia tonturas e dores de cabeça no trabalho durante alguns meses, sem que melhorassem. Finalmente resolvi ir ao médico. Junto com o diagnóstico, descobri mais uma coisa que me afligia: Ansiedade.

Não que esse fosse um sentimento recente. Dese o acidente do Gol com o jato Legacy, ainda em 2006, tinha desenvolvido um pavor ferrenho em voar, perdendo boas oportunidades de férias. Vindo os filhos, me vi numa sinuca de bico: Crianças detestam viajar de carro. As minhas mal suportam longos trajetos dentro da cidade, quanto mais ficar 10, 12 horas em um carro fazendo road trips, ou pelo menos com esse nome eu me enganava de que não havia problema, e que viajar de carro era mais divertido. Não me leve a mal, adoro viajar de carro ainda, mas com crianças, o buraco é mais embaixo...

Enfim, voltando ao assunto, junto com o diagnóstico de hipertensão descobri a ansiedade com saúde. Não se encaixa com hipocondría, pois não me vejo viciado em doenças. De fato, qualquer dor-de-cabeça ou mal estar podem ativar em mim um estado de desespero que me deixa gelatinoso. Logo me imagino recebendo os mais terríveis diagnósticos, de câncer no cérebro, poucos dias de vida, ou uma longa e sofrida internação que botaria eu e meus familiares em frangalhos. Caramba, só de pensar nisso já me passa um arrepio pela pele.

De fato, trato o problema tanto com ansiolíticos quanto terapia a uns bons anos. Existem períodos bons e ruins. Felizmente, os bons tem prevalecido sobre os ruins em grande parte, mas quando os ruins aparecem...

O mais recente foi durante uma viagem de férias. Subitamente senti uma baita tontura. Ficar deitado era pior do que ficar em pé. Consegui gerenciar a situação até o dia seguinte, em que voltariamos para casa. Me vi constantemente tentando medir a pressão e os batimentos, em busca dos sinais que fatalmente marcariam meu fim. Graças a uma esposa, prevenida e compreensíva consegui esperar a consulta que ela tinha marcado para o próximo dia útil.

Na consulta, a médica me examina e olhava meus olhos com atenção, me girava a cabeça e acompanhava a direção em que meus olhos iam, pedia para eu acompanhar seu dedo somente com os olhos. Mesmo ela sendo otorrina, logo me imaginei recebendo o diagnóstico “é neurológico.” e logo eu teria um piripaque como o do Chaves.

Para o meu momentâneo relaxamento, a médica muito antenciosa disse tratar-se de pequenos cristais dentro do labirinto, no ouvido que haviam se deslocados. Cristais? Nem sabia que tinha isso lá dentro!

Enfim, ela disse que faria uma manobra, e que em 24 horas eu deveria experimentar alguma melhora. Saí de lá razoavelmente satisfeito, comentado com a minha esposa como minha ansiedade me pregava peças e como eu tive de usar todo o arsenal que minha terapeuta cognitiva-comportamental me havia passado para lidar com as crises: respirações profundas e a descrição em voz-alta de um objeto, tudo para me tirar do loop de pensamentos e tentar me trazer de volta para algo que possa ser classificado de “normalidade”

Enfim, aqui estou eu algumas horas depois já com minha ansiedade me comendo por dentro com o infâme “e se...?”. “E se eu não melhorar?”; “E se for algo mais grave?”, entre outras coisas.

Quem tem ansiedade sabe como é dificil lidar quando a crise bate. Tentamos racionalizar coisas óbvias, como “o avião é um dos meios de transportes mais seguros do mundo”. Ainda assim, nossa ansiedade sobe pela espinha, toma conta de nossos pensamentos, nos impede de viver o dia-a-dia, e ficamos antecipando algo que pode ou não ocorrer, e que na maioria das vezes está fora do nosso alcance. E como não tenho dinheiro para viajar de avião, isso normalmente bate forte em mim na saúde.

É quase cômico, se não fosse trágico se sentir desse jeito. Mesmo fazendo terapia e meus exercícios, muitas vezes me vejo perto de perder o controle, considerando sinceramente se devo ou não botar um alprazolam para dentro.

Enfim, se você se sente assim como eu, não deixe de fazer terapia. É um remédio demorado, e depende muito mais do nosso esforço do que qualquer coisa, e a verdade é que você nunca sabe se um dia vai conseguir deixar de fazer, mas, na minah experiência, tem sido vital para suportar o dia-a-dia nesse mundo cada vez mais odioso em que vivemos.

Assim, tento focar em coisas simples. Usar menos telas (o que é o mais díficil), e, quando estou nelas, tento focar no trabalho. Evito notícias, curtindo um JOMO (Joy Of Missing Out) ou seja, curtir estar por fora. as vezes me vejo lutando contra a ansiedade me entupindo de velhos episódios de podcast de humor, mas o que realmente resolve são atividades prazeirosas. Viajar com a família, mesmo tendo essa crise de equilíbrio, valeu a pena. Cuidar das crianças, encarar um hobby ou simplesmente cuidar da casa podem ser fontes de pequenos prazeres que te ajudam a encarar o dia-a-dia sem a sensação de que você está lutando para manter o controle.

As vezes me pergunto se um dia vou estar normal novamente, o que quer que isso signifique. Sinceramente não sei. Por mais difícil que seja, prefiro torcer pelo melhor.

Cuide-se você também.

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