Sei lá e pans

autobiografia

Depois de um looongo inverno, pelo menos se você está, como eu, no hemisfério sul, estou aqui de volta soltando algumas idéias soltas nesse blog, junto com um excesso de virgulas que me é peculiar.

O motivo da pausa, a quem possa interessar foi para repensar o uso dessa ferramenta. Gosto do writefreely, mas a versão gratuita é bem limitada, e no momento não me vejo propenso a pagar. Gostaria é de ter meu próprio domínio, e hospedar um writefreely diretamente lá. Enquanto não rola, vou voltar a postar por aqui.

De volta ao post, embora o título deste possa ser muito auspicioso para alguns, não falarei do filósofo, economista, teórico político, revolucinário socialista entre outros títulos atribuidos a este mais famoso. Falarei de outro Marx, o ator e comediante estadunidense Groucho Marx.

Recentemente me peguei novamente lendo sua autobiografia. É um hábito pegar para reler nos ultimos, sei lá, 20 ou 30 anos, mais ou menos. É uma leitura segura que normalmente uso para “tirar o bode” dos aborrecimentos e ansiedades diárias.

Comecei ~pirateando~ lendo uma edição que apossei de meu irmão mais velho, quando ele saiu de casa. Não me lembro bem como me deu a curiosidade de lê-lo, mas acho que foi por conta de um livro de citações que eu ganhei, e que tinham várias citações dele que me faziam rir, como “Eu nunca faria parte de um clube que me aceitasse como sócio” ou “Eu nunca esqueço um rosto, mas no seu caso, vou fazer uma exceção.”. Depois de uns anos tomei vergonha na cara e adquiri a minha propria edição de um sebo via internet.

capa do livro
Felizmente minha edição está um pouco menos sofrida que essa

Sua autobiografia é divertida, mas com o tempo e a maturidade, fui lendo melhor alguns vernizes que o tornam um típico home do seu tempo. É importante levar em conta que o autor nasceu em 1890, e já tinha uma carreira teatral antes da primeira guerra mundial. Ele e seus irmãos já eram grandes astros da TV e cinema na altura da segunda guerra mundial. Como tanto, temos durante o livro, além de ótimas e engraçadissimas histórias pessoais e do show business muita misoginia, como no trecho em que ele conta sair com uma garota após o fim do seu primeiro casamento, tratando-a como tola por deixar a mãe aparecer a ele como um pretendentente “Uma garota esperta que deseja se casar normalmente é matreira o bastante para esconder sua velha mãe até que tenha tido tempo de arrancar um Buick e um anel de noivado de sua pretendida vítima”. Claro, se você já assitiu algum filme dos irmão marx essa misoginia fica evidente, como em Diabo a Quatro (Duck Soup) seus ataques a personagem de Margaret Dumont quase sempre toma a forma de um ataque em seu status como mulher.

Mas como disse, ele é um personagem de sua época, e embora isso não justifique nada, ajuda a entender o contexto em que ele estava inserido. É um livro divertido, com diversas histórias que até hoje me arrancam risadas quando estou lendo, ainda que eu tenha ficado mais crítico a estes comportamentos que estão escritos ali e que antes eu não identificava.

Também é notavel nessa autobiografia a ausência de maiores informações sobre sua vida pessoal familiar. Quer dizer, sobre a família “pais e irmãos” até temos bastante informação. Sobre seus casamentos e filhos e que a coisa é bem escassa. Há uma citação a seu filho mais velho, Arthur durante o livro e um capítulo inteiro dedicado a Melinda, sua filha mais nova, já de outro casamento, de resto ficamos com histórias sobre apresentações, filmes, rádio e TV e sobre algumas das estrelas com qual ele topou nos ditos “anos dourados” de Hollywood.

Ainda assim, recomendo bastante, mesmo com essa ressalvas. É um personagem importantíssimo e que até hoje influencia muito da comédia que é produzida, talvez tanto como Chaplin, ainda que não seja tão reconhecido mundialmente, sua rapida metralhadora de palavras deve ter sido alguma influência para uma série como “Gilmore Girls” incluindo ali todas as referências obscuras.

Em tempo, enquanto me perturbava digitando essas palavras, descobri que há uma biografia recente, de 2016 por Lee Siegel, chamada “Groucho Marx, the comedy of existence” que pretendo conseguir ler um dia.

#comedia #autobiografia #grouchomarx